Na última sexta-feira, o prefeito de Buenos Aires, Henrique Queiroz, completou mais um aniversário. A data, por si só, poderia passar como tantas outras, mas me trouxe de volta uma série de lembranças e reflexões que guardo desde menino. Não escrevo aqui para santificá-lo, tampouco para julgar sua imagem pública, mas para compartilhar a forma como o vi ao longo do tempo e como ele, de algum modo, sempre esteve presente no imaginário da nossa cidade.
Minhas primeiras memórias de Henrique não vieram da política em si, mas das festas de Nossa Senhora do Bom Parto, quando eu ainda era criança. Lembro da agitação das ruas, das barracas, da música ecoando no coreto e, no meio daquele movimento, um político cercado por gente, entregando rosas, bandeirinhas, posando para fotos. Ele sempre aparecia vestido de verde, acompanhado de uma comitiva que se destacava no meio da multidão. Aquela presença constante chamava atenção e, de certo modo, passava a mensagem de que ele queria estar próximo do povo. Eu observava tudo à distância, sem entender direito o que significava, mas aquilo ficava gravado na memória.
Com o passar dos anos, fui entendendo que não se tratava apenas de uma figura comum nas festas da cidade. Henrique era um deputado que, diferente da maioria, não esquecia os municípios pequenos. Costumávamos ver políticos priorizando cidades maiores, onde a quantidade de votos é decisiva, mas ele fazia questão de marcar presença em Buenos Aires. Aos poucos, foi se consolidando, para mim e para tantos outros, como o “nosso” deputado, mesmo que sua trajetória fosse muito maior do que os limites do município.
Foram dez mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa de Pernambuco, quarenta anos sentado na mesma cadeira, atravessando gerações, vivendo momentos de mudanças profundas na política, desde a Constituinte estadual até o surgimento de novos modos de fazer política. Pouquíssimos chegaram a esse patamar, e não é à toa que seu nome é reconhecido em todo o estado. Henrique construiu respeitabilidade e soube articular. Tanto que chegou a presidir o Iterpe em dois governos distintos, o de Paulo Câmara e o de Raquel Lyra, prova de que sua habilidade em dialogar ultrapassava barreiras partidárias e ideológicas.
Por muito tempo, minha relação com ele foi apenas de observador. Eu o via nas festas, mas nunca havia trocado sequer uma palavra. Foi somente em 2024 que me encontrei frente a frente com Henrique, numa conversa que mais parecia uma consulta sobre as necessidades de Buenos Aires. Naquele momento, percebi o quanto era respeitado por todo o estado. O telefone não parava de tocar: prefeitos, deputados, secretários, lideranças das mais diversas regiões. Ele atendia, resolvia, encaminhava soluções, como se tivesse sempre um fio direto com todas as esferas do poder. Era impressionante ver de perto essa rede de contatos que até então eu só imaginava.
Muitos acreditavam que, depois de conseguir eleger o filho deputado e encerrar uma longa carreira na Alepe, Henrique já havia “pendurado as chuteiras”. Mas a política é feita de surpresas, e quando o seu nome passou a ser cogitado para a Prefeitura de Buenos Aires, muitos duvidaram. Diziam que o tempo havia passado, que ele não teria mais espaço. A história mostrou o contrário. Ele entrou na disputa, conquistou apoios e venceu, contrariando as previsões.
Não me cabe aqui avaliar a sua gestão, porque isso é tarefa que pertence ao povo. O que me cabe, como alguém que testemunhou de diferentes formas sua presença, é reconhecer que Henrique construiu uma trajetória que não pode ser apagada. Gostem dele ou não, concordem com ele ou não, é inegável que escreveu seu nome na política pernambucana e deixou um legado que atravessa gerações.
A política é feita de afetos, rejeições, paixões e disputas. Mas há algo que sempre deve prevalecer: o respeito a quem ajudou a escrever a história. E Henrique Queiroz, com todas as contradições que a vida pública impõe, é parte viva da história política de Pernambuco .
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