Por Bruno Oliveira
Hoje escrevo de forma mais emotiva do que costumo fazer. É difícil transformar em palavras o sentimento que nos invade quando alguém tão querido nos deixa. Daniel Xavier de Pontes, o nosso conhecido e carinhosamente chamado Seu Daniel da Farmácia, partiu essa semana.
Mais uma vez, o tempo me para, e encontro na escrita dessa coluna de memórias um jeito de reviver lembranças e dividir com os outros a importância de pessoas como ele.
Para quem não sabe, antes mesmo de abrir a farmácia que se tornou referência em nossa cidade, Seu Daniel foi professor de Biologia no Jaime Coelho. Seguindo os passos do pai, continuou no ofício da farmácia e logo ganhou o carinho da população. Sempre gentil, atencioso e cuidadoso, conquistou não só clientes, mas amigos.
Mesmo sem grandes pretensões políticas, acabou sendo convidado para ser vice-prefeito em uma chapa e venceu. Cumpriu seu papel com dignidade e, depois, preferiu retornar ao que sempre fez com maestria: cuidar das pessoas através da sua farmácia.
Na minha infância, lembro bem das vezes em que minha mãe me mandava buscar algum remédio. Muitas vezes, não tínhamos como pagar na hora, e ele simplesmente anotava, dizia “tá certo” e confiava. Nunca negou um só remédio. Aquilo, para mim, era muito mais do que um gesto simples: era uma lição de humanidade, respeito e confiança. Hoje, enxergo aquilo como gratidão e generosidade de um homem que marcou a vida de tanta gente.
Seu bigode era uma marca registrada. Chamava atenção e, junto com o jeito sério e a voz forte, podia até parecer dureza, mas, no fundo, era apenas a forma de um homem íntegro, de bom coração, que sabia tratar todos com gentileza. Por isso, conquistou o respeito de toda a cidade.
E havia ainda outro traço marcante: a fé. Seu Daniel era muito religioso. Sempre que podia, estava presente nas missas, participando ativamente da vida da Igreja. Quantas vezes o vi fechar sua farmácia para ir à missa. Essa cena, que se repetia, mostrava o quanto a fé fazia parte do seu cotidiano. Ele vivia com simplicidade, mas também com devoção, carregando no coração valores que o guiavam em cada gesto.
No ano passado, tive a honra de gravar um vídeo com ele. Antes mesmo de ligarmos a câmera, passamos um bom tempo conversando sobre vários assuntos. Foi nesse momento que surgiu uma lembrança divertida: a foto que hoje ilustra esta manchete. Ele me contou que foi feita em um evento político em que ele, o prefeito e Armando estavam em Gravatá. Rimos juntos quando ele comentou da “pose” e da barba bem feita que chamavam atenção. Foi uma cena leve, que mostrou também seu lado simples, bem-humorado e acessível.
Hoje, revisitando essas memórias, percebo o quanto foi importante ter registrado aquela conversa. Mais do que fatos históricos, guardei a humanidade de um homem que soube marcar sua cidade pelo respeito, pela fé e pela bondade.
Seu Daniel se foi, mas sua história, suas lições e suas lembranças continuarão entre nós. A memória de um homem simples, mas gigante em humanidade, permanecerá para sempre viva em nossa cidade.










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